A sufragação das Almas do Purgatório e dos entes queridos constituiu, desde sempre, uma preocupação dos vivos, que se retrata nesta tradição secular portuguesa da Amentação das Almas.
A Quaresma para os católicos corresponde a um período de penitência e oração, de jejum e abstinência. A morte de Jesus Cristo na cruz e a sua ressurreição no domingo de Páscoa, ditaram uma fé ilimitada na vida além-túmulo, a qual nesta época é intensamente vivida.

Depois de uma cuidada sequência que se faz sempre que se vai cantar a uma capela ou cruzeiro, o grupo segue em silêncio absoluto até ao local definido, efetuando-se aí a mesma sequência, mudando só a letra da música relativa ao santo(a). Relativamente ao “miserere” ou "tende misericórdia de mim, Senhor” é uma versão do salmo 5.0 feito pelo compositor italiano Gregorio Allegri durante o papado de Urbano VIII, provavelmente na década de 1630, e era executado na Capela Sistina durante as matinas, como parte do serviço exclusivo das trevas na quarta e sexta-feira da Semana Santa.
Dando assim oportunidade à recriação deste rito cristão e à festividade popular, em que muitos cidadãos podem e devem partilhar desta milenar solenidade, torna-se necessário também criar as raízes necessárias, para que não se deixe extinguir esta secular tradição da Amentação das Almas que os nossos antepassados habilmente nos legaram. Nesta conformidade e após alguns ensaios, um grupo de ançanenses que teima em não deixar acabar a tradição, irá recriar e participar pelas 22h00 no Encontro de Cantares Quaresmais que se vai realizar no dia 12 em Cantanhede, numa organização do Grupo Cancioneiro de Cantanhede. É essa mesma tradição e as suas diversas variantes onde ainda se canta este ritual no nosso País que será recriada pelos Grupos de Cantanhede, Ançã, Bolho, Marvão, São Caetano, Mira e Comunidade de S. José (Franciscas, Lírios e Tarelhos), onde se pode apreciar este costume que aglutina o tradicional, o religioso, o profano e o musical. Ainda nesse dia após a chegada do grupo (24h00), irão também recriar a Amentação das Almas junto da Igreja Matriz na Vila de Ançã.
(Texto enviado por Francisco Manuel Relva Pereira)
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